sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Caladmor - Of Stones And Stars


CALADMOR
OF STONES AND STARS
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Dos cumes helvéticos bradam os Caladmor, banda que pratica um Folk/Metal digno de audição atenta. Fundada em 2001, quando ainda dava pelo nome de Pale, esta banda suíça conta com Barbara Brawand ("Babs"), Nick Muller, Markus Sauter e Martin “Maede” Baumann.

Antes de mais há que notar que a música dos Caladmor é revigorante e plena de energias positivas, evolando a partir de uma matriz pagã ancestral. Facto que cria um certo paradoxo com o nome "Caladmor" (luz negra), porque o Metal que estes músicos oferecem é épico, luminoso e dionisíaco. Na verdade, a banda define concretamente as fronteiras da música que pratica, designando-a como “Caladmorian Epic Folk Metal”.

Lançado a 30 de agosto de 2013, “Of Stones And Stars” sucede ao álbum de estreia “Midwinter” (2010) e demonstra que a banda evolui na senda do Folk, Gothic, Viking e Death Metal, mas seguindo um caminho bastante genuíno e aliciante, até porque, quando ouvimos as novas músicas, não podemos deixar de assinalar que a banda prima pela diversidade, procurando reinventar fórmulas e oferecer uma experiência Folk com matizes contrastantes, sendo que para isso recorre, linguisticamente, a uma panóplia de registos que passam pelo inglês, alemão e pelo ancestral dialeto nórdico.
A evolução em relação ao disco de estreia é significativa, na medida em que o som da banda está mais pesado, rápido, épico e agressivo ao nível das guitarras, sendo particularmente significativa ao nível dos vocais femininos.
Of Stones and Stars é uma opus em torno dos axiomas fundamentais: “conhecimento” e “sabedoria”; inspirada em referências mitológicas evidentes logo que escutamos o tema de abertura “Curse Of The Gods”, inspirado na “Odisseia” de Homero, o poema épico que narra as aventuras e desventuras de Ulisses. O tom épico leva-nos a um horizonte de referências que inclui alguns dos expoentes do Viking Metal, nomeadamente, Ensiferum. Os riffs pesados e eloquentes, uma prestação vocal admirável de Babs e a intensa cavalgada rítmica devidamente alicerçada num refrão particularmente memorável são os expoentes desta música.
O gutural de Maede ganha destaque na segunda, “The Raid”, um tema de contornos marciais que remete para as incursões dos “Homens do Norte” e que não estranharíamos encontrar na banda sonora de uma série televisiva ao estilo de “Vikings”. De referir, a qualidade lírica, nomeadamente, ao nível do refrão, facto que será recorrente ao longo do álbum e também evidente no tema título “Of Stones and Stars”.
Enquanto nos encaminhamos para o seu núcleo, surgem as pérolas do álbum. Primeiro, “Dawn Of The Deceiver” surpreende por completo ao apresentar vocais limpos. De realçar também o piscar de olhos aos Eluveitie, facto ainda mais evidente pela participação especial de Chrigel Glanzmann na gaita de foles irlandesa. Mas há ainda Joel Gillardi (The Land Of The Snow, Lunatic Fringe, Mulo Muto) na guitarra solo, contribuindo para uma ainda mais intensa densidade melódica do tema.

Depois, “Alvissmál” (a narrativa de Alvíss que tem de provar a sua sabedoria ao deus Thor), exemplo daquilo que mais apreciamos numa verdadeira composição Folk/Metal (juntamente com “Heralds Of Doom” um dos temas mais negros e puramente Metal do álbum, sendo que este conta novamente com Chrigel Glanzmann na gaita de foles). Um canto ancestral nórdico com lírica extraída dos “Edda” islandeses do século XIII (adaptado ao universo Metal) pleno de dicotomias delicodoces/agressivas. A natureza expressiva e a maviosidade do canto de Babs (aliada aos duetos irrepreensíveis) volta a somar pontos e a amplitude melódica do tema e os seus contrastes, fazem de “Alvissmál”,  uma das melhores composições de Of Stones and Stars.

Ainda no âmago do álbum escutamos a balada etérea “Laudine's Lament” (extraída do romance de cavalaria do séc. XII, “Iwein”, de Hartmann von Aue), momento para nos deleitarmos com a voz de “Babs”.
Inspirada nas referências míticas a Yggdrasil, “Mimirs Born” reforça ainda mais os nexos literários deste álbum, visto que recorre, liricamente, à poesia de A. Kaiser-Langerhanß.
A “Nymph's Lure” abre com riffs de guitarra com afinações reminiscentes do Stoner, evidenciando-se depois o recurso aos coros masculinos enquadrando a voz de “Babs”, o épico refrão e a presença cativante da gaita-de-foles.
Taberna Trollis” é o “momento Kusturica” do álbum, convocando um ambiente de libertinagem festiva que contrasta com o ambiente mais idílico e atmosférico do epílogo, “Helios Sky”, onde ganham destaque os belos coros que exaltam o deus grego Prometeu pela dádiva do fogo (símbolo do conhecimento e da sabedoria) à Humanidade,
Quando ouvimos a última nota Of Stones And Stars há ressonâncias com Moonsorrow, Amon Amarth, Ensiferum, Amorphis e Eluveitie que continuam a ecoar, no entanto, a música dos Caladmor transcende esse quadro de referências e demonstra cabalmente como, ainda que de forma independente, um conjunto de músicos talentosos consegue vencer as dificuldades e oferecer, à audiência ávida, um excelente álbum de Metal.
 

Imagine Dragons - Night Visions

IMAGINE DRAGONS
NIGHT VISIONS
4 setembro de 2012, via Interscope
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Mesmo para o comum mortal que não acompanhe regularmente os lançamentos do universo discográfico, será difícil nunca se ter cruzado com as músicas deste Night Visions, álbum de estreia dos americanos Imagine Dragons. Nos escaparates desde setembro de 2012, via Interscope Records.

Produzido por um homem do Hip-Hop, Alex da Kid e por um homem do Indie Rock, Brandon Darner, o álbum terá demorado cerca de três anos até ficar concluído e, na verdade, a fusão de estilos e géneros congrega nele uma musicalidade polimórfica que cruza sucessivamente fronteiras entre sonoridades mais matriciais como o Alternative Rock e o Indie, mas não deixa de, ocasionalmente, piscar o olho ao Dubstep, ao Folk e ao Hip-Hop, facto que ajuda a explicar o sucesso do disco, o apetite dos publicitários pelos temas mais “orelhudos” e a presença de "Radioactive" e "On Top Of The World" em diversos trailers e anúncios vários.

Assim, foi sem estranheza que Night Visons escalou no top de vendas nacional, facto que os ajudou a chegar ao palco do Coliseu dos Recreios via Everything Is New, para gáudio dos fás que lotaram por completo aquele espaço.

Night Visions abre com a caleidoscópica, electrónica e pós apocalíptica “Radioactive”. A fasquia está, sem receio, colocada bem alto. Imediatamente somos cativados pela melodia e pela voz encantatória de Dan Reynolds.  “Tiptoe” aponta as baterias ainda mais para as linhas da electrónica e será, porventura, um daqueles temas que ao vivo faz levantar os pés do chão e abandonar o corpo aos ritmos mais dançáveis, no entanto, no conjunto do álbum parece algo deslocado e artificial. Entretanto surge aquele que foi o primeiro single e uma das músicas mais difundidas dos Imagine Dragons, “It´s Time”. Agora a toada é mais Indie e mesclada de elementos Folk, as melodias são mais delicadas e emotivas e a voz ganha em expressividade.

"On Top of the World", o single mais recente (24 de agosto 2013) corresponde ao lado apolíneo e solar de um universo musical que, como o nome indica, apela mais a ambientes nocturnos e saturnianos. Música plena de energias positivas, é de facto o tema mais estival dos Imagine Dragons (a par de “Rocks”).

Musicalmente mais débeis que a generalidade das outras músicas, “Amsterdam” e “Hear Me” encantam mais por aquilo que se diz do que pelos sons que acompanham as palavras. Segue-se a “sui generis” balada minimalista “Every Night”. Depois, a grandíloqua “Bleeding Out” mostra a banda a puxar pelos galões e a elevar novamente a fasquia, alicerçando-se no trabalho de produção de Alex da Kid. De facto, este último é um tema apontado para as grandes multidões e concertos de estádio, destinado a arrancar vagas de palmas dos fãs. A próxima “Underdog” usa e abusa dos teclados e acaba por ser, na nossa opinião, um dos temas menos interessantes do álbum. A dose dupla "Nothing Left to Say / Rocks" define claramente a diversidade de elementos que os Imagine Dragons conseguem reunir no seu espectro musical.

Antes do final, a edição à nossa disposição para esta análise, oferece ainda a nefelibata, vaporosa e titilante “Cha-Ching”, reservando, para o final, “Working Man”.

O futuro apresenta-se auspicioso para os  Imagine Dragons, sendo que este Night Visions constitui o corolário de um trabalho de composição e produção musical que deve ser realçado e que foi habitualmente reconhecido e amplamente mediatizado.


domingo, 17 de novembro de 2013

Recensão crítica a "Espíritos das Luzes" de Octávio dos Santos

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Sinopse

«Era uma vez, num outro universo, em outro espaço e outro tempo, um planeta chamado Portugal… que fora abalado por um terrível terramoto que quase destruíra por completo a capital, Lisboa. O Marquês de Pombal, o todo-poderoso primeiro ministro do Rei D. José, prometeu, confiante na capacidade dos seus arquitectos e engenheiros, e também na de milhares de operários-robôs, que a cidade seria reconstruída, para diferente e para melhor, em sete dias. Entretanto, aterra no astroporto do Cais das Colunas uma nave que traz o milionário inglês William Beckford. À sua espera está um seu amigo português, o poeta Manuel Bocage, e os dois iniciam um percurso pela megalópole em acentuada e acelerada mutação, durante o qual irão encontrar, além de Sebastião José, outros personagens importantes e fascinantes, entre os quais o Intendente Pina Manique, a Marquesa de Alorna, Voltaire, a Rainha D. Maria I, Kant, António Ribeiro Sanches, Luís António Verney, Luísa Todi… Por entre manifestações místico-religiosas, encontros científicos e culturais, discussões de política galáctica e orgias tecno-sexuais, Beckford e Bocage ver-se-ão à mercê de um misterioso e inquietante indivíduo, que acabará por os levar até a um sítio onde se guarda o mais espantoso, o mais extraordinário segredo de Portugal…»



Recensão crítica por Rui Carneiro:

Poucas épocas na história desta ancestral jangada de pedra denominada Portugal foram tão marcadas pela omnipresença de uma figura que verdadeiramente se elevou acima do comum mortal para deixar uma marca indelével na História universal. Se D. Afonso Henriques, surge como o paradigma do monarca da lenda temos, no entanto, que aguardar pelo Portugal setecentista para vislumbrar uma figura , que não sendo régia, marcou para sempre a forma de governar um país caracterizado desde há séculos pela dificuldade de governação.
Em “Espíritos das Luzes”, o jornalista Octávio dos Santos elabora uma desconstrução alegórica e fantástica do ambiente e cenário da época, misturando História e ficção científica, figuras reais com personagens de ficção, surpreendendo assim as expectativas do público leitor, visto que esta é uma obra de largo espectro capaz de agradar não só aos amantes do romance histórico, mas também aos fãs mais acérrimos da literatura fantástica.


Autor: Octávio dos Santos
Editor: Gailivro
Colecção: 1001 Mundos

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Sirenia - Perils Of The Deep Blue

SIRENIA
Perils Of The Deep Blue
28 de junho de 2013, via Nuclear Blast
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A degustação de Perils Of The Deep Blue começa de imediato pela beleza do aspecto gráfico do álbum. A capa é da autoria de Anne Stokes, artista gráfica celebrizada pelo seu trabalho em RPGs, nomeadamente, o afamado Dungeons & Dragons. A arte gráfica é ilustrativa e um convite para a música no interior do disco, uma vez que expressa não só a identidade da banda, mas também a temática principal do álbum.

O guitarrista/vocalista Morten Veland, secundado por Ailyn (entrevista Rn’H disponível aqui), volta a catapultar a sua banda para a ribalta com um novo trabalho que traz mais alma e um novo fôlego aos Sirenia.

No competitivo universo do "Female Fronted Metal" de cariz gótico/sinfónico parar é morrer e a estagnação espreita ao virar da esquina. Ciente desse perigo, Morten aposta forte neste Perils Of The Deep Blue e, geralmente, acaba por sair vencedor, visto que a banda parece mais sólida, assertiva e coesa neste disco.

Comos podemos verificar pela recente entrevista que fizemos a Ailyn, a comunhão entre os dois vocalistas foi mais estreita neste trabalho e esse facto parece determinante para o sucesso do disco, visto que a voz de Ailyn parece agora rejubilar com outro fulgor, sendo que os diatribes vocais ao estilo “beauty & the beast”, um lugar comum do género, surgem com outra ductilidade melódica, contribuindo para uma “performance” muito mais harmoniosa.

Canções como “Seven Widows Weep”, ”Ditt Endelikt”, “Darkling” ou "My Destiny Coming to Pass" demonstram a qualidade e diversidade deste universo musical que parece apostado em se reinventar através da inclusão de cambiantes melódicas que tendem a fundir diversas sonoridades numa mesma estrutura homogénea.

Perils Of The Deep Blue corresponde assim, na nossa opinião, a um marco na carreira dos Sirenia, visto que demonstra que a banda está agora a viver um momento áureo conseguindo transmitir, da melhor forma, uma plenitude de emoções através da música.


Mena Brinno - Princesss Of The Night



MENA BRINNO
Princess Of The Night

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Princess of the Night é um novo capítulo da saga musical dos Mena Brinno, banda de Gothic Metal oriunda de, Tampa, na Flórida, Estados Unidos da América e capitaneada pela diva Katy Decker. A fórmula é simples e conhecida de todos aqueles que apreciam os registos operático-sinfónicos.

Este novo trabalho da banda tem recebido críticas favoráveis e, por vezes, têm sido enfaticamente proclamadas, não só a qualidade da banda, mas também as potencialidades da sua vocalista. De facto, há que tirar o chapéu aos Mena Brinno, para uma banda independente e não alinhada, Princess of the Night exibe uma produção cuidada e envolvente que evidencia as subtilezas da música, facto que é imprescindível a uma banda que pretende singrar num universo musical que não se compadece com debilidades a esse nível.

O tema de abertura, Princess Of The Night, não nos seduz particularmente, demora a arrancar e o trabalho rítmico algo linear acaba por tornar o esquema musical demasiado redundante, ainda que a voz de Decker e o solo ocasional salvem o tema da monotonia. A mais soturna e melancólica “Blackmail” corta com a veia festiva inicial, evidencia o talento vocal de Decker e a versatilidade e amplitude operática da sua voz. “Sonorous Dream” é um exórdio do paradigma gótico, faltando-lhe originalidade. “Serpentine Lullaby”, apesar de recuperar alguns motivos instrumentais do tema inicial, explora-os de uma forma bem mais apelativa e é daquelas músicas que os amantes do género não deixarão de ouvir vezes sem conta, visto que ela, sincreticamente, resume aquilo que se espera de um bom tema de Gothic Metal, sendo que a banda tem ainda o condão de introduzir cambiantes melódicas que suscitam a nossa atenção. Em “Captive Soul” Decker carrega na teatralidade tonal da sua voz, enfatizando a dramaticidade do registo e colando-se de uma forma mais veemente ao paradigma operático, sendo outro dos temas menos significativos do álbum. “Sacrifice” apresenta-se de uma forma mais subtil, diáfana, vaporosa e etérea, pautada pela guitarra acústica e por uma maior contenção na voz, facto que enriquece o álbum ao nível da diversidade. “Drown Within” usa e abusa dos teclados e peca por uma excessiva languidez melódica. Inversamente “Cross To Bear” fecha o álbum de uma forma mais assertiva, evidenciando uma estrutura musical vibrante, com variações bem conseguidas a todos os níveis.

Em resumo, há de facto aqui motivos para nos congratularmos com Princess of the Night e, na generalidade, o tom panegírico pode ser utilizado para acentuar os pontos mais fortes do álbum, no entanto, no final fica a sensação que esta banda ainda não alcançou o zénite do seu potencial, existindo ainda aspectos que, quando forem lapidados, podem revelar um diamante de excepcional quilate.


Obscurity - Obscurity


OBSCURITY
Obscurity

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Oriundos da Alemanha, os Obscurity mantiveram-se, ao longo dos anos, fiéis a si próprios nos meandros “underground”.No entanto, e apesar da falta de reconhecimento das hostes, estes alemães perseveraram e agora voltaram à carga com este disco homónimo, que pode bem ser o melhor trabalho até à data.

Há cerca de quinze anos que os Obscurity surgem como epígonos do Battle Metal, sendo que é exactamente esse espírito que grassa no novo álbum, um misto de Death/Black/Viking Metal mesclado de lirismo pagão e marcial. Assim sendo, podem esperar doses elevadas de testosterona musical, muita agressividade e ritmos galopantes, até porque aqui não há lugar para filigranas folk, apenas o ribombar sucessivo do martelo de Thor e o entrechocar do aço.

Assim este disco homónimo, Obscurity, abre a todo o gás com dois temas paradigmáticos deste universo, “In Nomine Patris”, uma violenta  diatribe liricamente focada na igreja católica enquanto instituição e, logo a seguir, a homónima “Obscurity”, uma “homage” àquilo que a banda representa para si própria e, especialmente, para os fãs. “Germanenblut” sendo um dos temas mais assertivos do album, com o repentismo trovejante dos blastbeats a explodirem nos momentos iniciais, é também um hino marcial de inspiração viking e quase conseguimos imaginar as proas dos drakar, rasgando as ondas ao sabor do vento e da ânsia do sangue e do saque. “Strandhogg” continua na mesma toada e em “Ensamvarg” temos nova “homage”, neste caso a Quorthon, (pseudónimo de palco para Thomas Börje Forsberg, fundador dos suecos Bathory, e pioneiro do Black Metal sueco, creditado por vezes como criador do Viking Metal).

"Blutmondzeit”, “Jörmungandr”, “Weltenbrand” e “Fimbulwinter” formam um quadro conceptual em torno dos quatro desastres escatológicos da mitologia nórdica, sendo que em termos puramente musicais a banda não se afasta do registo habitual. Próximo do final, encontramos “Kein Rückzug”, uma composição ideal para apresentações ao vivo, dada a sua intensidade e cavalgada rítmica contagiante. Chegados ao epílogo com “So Endet meine Zeit”, a banda envereda, como é apanágio em todos os álbuns, por uma maior dose de experimentação, abrandando os ritmos, causticando de forma mais sombria os ouvidos e seguindo uma linha mais sinfónica de contornos soturnos e melancólicos.

Concluindo, a banda oferece-nos um álbum maduro que confirma claramente a sua identidade no seio do Battle Metal, sendo que, em termos de produção, por vezes, há alguns aspectos menos conseguidos, particularmente ao nível da percussão, sendo de realçar também que os músicos deveriam introduzir diferentes cambiantes melódicas de forma a evitar uma certa sensação de “déjà vu” ao longo do álbum.



Dark Salvation - Der Letze Weg

DARK SALVATION
Der Letze Weg

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Para quem não conheça, formados em 2008, os Dark Salvation praticam um melodic death metal que funda raízes no Liechtenstein, paragens pouco prolíficas no que ao metal diz respeito, daí que a banda mereça alguma atenção.

Der Letze Weg é o segundo álbum de originais dos Dark Salvation, o álbum de estreia , Bärgthron, data de 2010 e, antes disso, apemas haviam lançado a demo Spartha (2008) e um DVD gravado ao vivo intitulado Dark Winter Nights III (2009).

Depois da intro construída em torno de sonoridades cinemáticas e orquestrais, começamos a sentir o pulso à banda. A primeira nota de interesse vai para os growls de Gianluca Teofani que, tipicamente alicerçados numa matriz death metal, manifestam assertividade e poder, sendo que lhes falta alguma diversidade tonal ao longo das músicas. Kevin Schädler e Simon Sprenger, nas guitarras, mostram eficiência, e o contraste entre a distorção rítmica e o canto límpido das cordas da guitarra solo resulta particularmente harmonioso. A restante secção rítmica é o calcanhar de Aquiles deste universo musical, registando-se alguma falta de “músculo”. As linhas de baixo são demasiado sibilinas, daí que seja difícil tomar o pulso e perscrutar a "tensão cardíaca" emanada pelas cordas de Marcel Gebert. A bateria de Samuel Schädler soa, por vezes, quase vinda do fundo do poço. Estas debilidades devem-se, porventura, a opções menos conseguidas ao nível da produção, aspecto que merecia um trabalho mais cuidado neste álbum.

Assim, importa valorizar temas como “Tränenmeer” e “Eifersucht”, visto que aparentemente são aqueles em que a identidade dos Dark Salvation surge de forma mais evidente, sendo também aqueles que denotam uma maior complexidade performativa e composicional. Destaque-se  também “Sekunden meiner Macht” pela capacidade de apresentar uma maior diversidade de motivos, partindo de um prelúdio atmosférico e etéreo, ao som de teclados, em que a voz assume uma tonalidade sussurante, e explorando, depois, o contraste com o registo mais habitual da banda. O epílogo fica reservado para “Endzeit”, que podemos traduzir precisamente como “Final”, momento em que há uma maior evidência na componente instrumental, trazendo a guitarra baixo um pouco mais para a frente, mas sem que se registe um grande dinamismo.

Os Dark Salvation denotam potencialidade e podem singrar nos caminhos do metal, no entanto, para que essa evolução aconteça, talvez seja necessário que o processo de gravação e mixagem ocorra fora do Liechtenstein, no seio de um contexto mais capacitado e experimentado nas valências do melodic death metal, visto que as maiores debilidades de Der Letze Weg decorrem, na nossa opinião, precisamente de um trabalho menos conseguido a esse nível.



Moskeo - Resurgente

MOSKEO
Resurgente

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Moskeo, banda oriunda de San Sebastián de los Reyes (Madrid), depois de ter protagonizado algumas mudanças ao nível da formação, volta às lides do rock com um novo álbum liminarmente apelidado, Resurgente. De realçar o trabalho do baterista no resultado final do disco: “Johnny tem uma dimensão dupla. Por um lado é o baterista e por outro tem a capacidade de analisar do exterior as alterações necessárias às canções.”
Depois de terem alcançado alguma notoriedade, em Espanha, com o álbum de estreia “No Soy tu Perro”, os Moskeo trazem na bagagem uma nova dose de rock urbano despretensioso e direto: “uma receita simples que segue a bandeira do rock para contar boas histórias, transmitir energia sob a forma de música e a raiva em forma de voz e, principalmente, para pôr toda a gente a saltar.” Na verdade, a banda aposta nas sonoridades punk-rock e heavy metal mescladas com o rock & roll clássico, ou seja, nada de muito original, mas, na verdade, também não é essa a intenção vital deste projeto.
A vocação interventiva é evidente logo a abrir com ”Listo para Vivir”, quando se solta o refrão: “estás aqui, listo para vivir, no estás allí, estás aqui, lucha por ser feliz,”. Os Riffs são pesados e a guitarra é a figura de proa deste tema, sendo que a voz de Alber, particularmente afetada e melodramática neste tema, não deixa grandes recordações. Em “Deja Ya de Soñar” mantém-se a tónica ao nível instrumental, no entanto, a prestação do vocalista parece mais conseguida e o tema é escolhido como single de apresentação do álbum. A próxima, “Resurgente”, assume-se como outro dos momentos mais significativos deste trabalho, embora enveredando por uma toada mais melódica. Abundam também as incursões ao punk em temas como “La Noche se Acerca” e “Rompe el Silencio” ou “De Mala Muerte”, ou seja, Resurgente configura-se como um álbum que, não exibindo grandes rasgos de originalidade, possui, no entanto, alguma diversidade musical, combinando aquela veia punk/rock com momentos mais sincopados como “Libre” e temas mais complexos e metal como “En La Sombra” e “No Lo Puedo Controlar”.
Assim sendo, ao segundo disco, os Mokeo apresentam-se mais maduros, mas importa consolidar um pouco a formação atual e, partindo de uma base de trabalho mais estruturada, progredir para uma sonoridade verdadeiramente “moskeana”.


Cradle Of Filth - The Manticore And The Other Stories

CRADLE OF FILTH
Manticore
16 de abril de 2012, via Nuclear Blast
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Com “The Manticore” (abreviando), os COF chegam à dezena de álbuns (note-se a simbologia do dez enquanto valor que encerra um ciclo e implica renovação e instauração de uma nova ordem), sendo que o novo trabalho revisita o universo musical paradigmático da banda britânica, ou seja, é tétrico, fantasmático e sinfónico. No entanto, há nele também uma intenção de regressar às raízes, divergindo da direção assumida nos dois álbuns anteriores. Mas este regresso às origens não significa, em última instância, um incremento na natureza mais crua da musicalidade da banda, existindo, outrossim, uma preocupação, nomeadamente em termos líricos, em tornar o álbum mais acessível, quer pela diversificação dos próprios temas, quer ao nível da interpretação, porque, sem prejuízo da expressão dramática, as letras estão significativamente mais inteligíveis do que em discos anteriores, notando-se que essa intenção esteve bem presente no momento da gravação.
Quanto ao conceito do álbum, contrariamente ao que aconteceu anteriormente, “The Manticore” não é  um álbum conceptual. O título é inspirado na obra de Edgar Allan PoeThe Raven and Other Stories” e os COF revelaram que o novo trabalho se assemelha a um “Bestiário”, ou seja, um repositório de histórias sobre monstros e criaturas lendárias, com reminiscências de Lovecraft (algo recorrente em COF). Assim sendo, além da referência específica ao arquétipo Manticore, há alusões à licantropia e ao vampirismo. Nada de novo, quando conhecemos o fascínio de Dani Filth pela temática do horror. De realçar que o vocalista de COF celebra entusiasticamente o Halloween (casou nessa data), pelo que a semana em que se celebra a véspera do “Dia de Todos os Hallows” (All Hallows Eve/ Halloween) parece uma escolha óbvia para o lançamento de um álbum dedicado especificamente ao “mythos” do horror lovecraftiano. 
Depois de o introito orquestral e fantasmático “The Unveiling of O” instalar os devidos níveis de dramaticidade, da garganta de Dani solta-se o estrídulo inaugural de “The Abhorrent” e um pensamento ocorre: “mais do mesmo”, até porque este tema alternará entre a vibração mais metal e a vocação mais sinfónica e orquestral dos COF. Assim sendo, fica guardada para “For Your Vulgar Delectation” a primeira nota de destaque, porque, quer a nível instrumental, quer ao nível das vocalizações há aqui uma sonoridade mais metal e despida das filigranas góticas. De facto, Paul Allender agarra de forma arrebatadora a música, alicerçando cada momento numa barragem de riffs de travo 80’s. Liricamente gótico; encontramos neste tema os motivos recorrentes no imaginário COF: bacanais vampíricas e libidinosas onde não faltam os fatais e aflitivos espasmos orgásmicos femininos. Na melódica “Illicitus”, como antes em “The Abhorrent”, encontramos a veia icónica de COF. Em “Manticore” os músicos voltam a puxar dos galões e alinham pela vertente mais pesada. No entanto, o momento grandíloquo do álbum é “Frost on Her Pillow”. Musicalmente cativante desde o início, a orquestração conduz-nos por algumas das mais eloquentes e sedutoras paisagens góticas de COF. Dani abdica do dramatismo e as palavras brotam inteligíveis, renegando, momentaneamente, o registo gutural/estridente.
Se no tema anterior a nota de destaque recaía nas vocalizações, “Huge Onyx Wings Behind Despair”  merece uma referência especial ao nível da dimensão instrumental, tornando-se mais preponderante o trabalho de Martin “Marthus”  Skaroupka na bateria. Na verdade, deparamo-nos com alguns dos melhores apontamentos ao nível da percussão presentes em “The Manticore”. Os riffs de “Pallid Reflection” e “Siding With the Titans”  são paradigmáticos de uma vocação mais assertiva e direta na música dos COF. No entanto, há medida que os temas se sucedem, começa a crescer uma sensação de esgotamento e “dejà vu”, acentuada pela recorrência cíclica dos mesmos motivos, pelo que, até ao final, merece sobretudo destaque a beleza encantatória do epílogo instrumental “Sinfonia”, demonstrando, mais uma vez, o papel determinante que Marthus granjeou no seio dos COF desde que chegou à banda, visto que o baterista é também responsável pelas orquestrações e teclados do álbum.
Sublinhe-se que “The Manticore and Other Horrors” afasta, em certa medida, o efeito “espada de Dâmocles” que parecia começar a assolar a música dos COF, devolvendo-lhe algum propósito e uma maior organicidade, quando a banda parecia condenada a navegar num oceano de águas paradas, ameaçando naufragar no marasmo da excessiva teatralização gótica. Não basta, no entanto, aos COF reinventarem-se com os olhos postos no passado, terão que encontrar novos rumos musicais que os mantenham como figuras de proa do metal extremo no futuro.


T.A.N.K
Spasms Of Upheaval

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Corre o ano de 2006, o local não é propriamente terreno fértil para a irrupção de sonoridades heavy extremas, situa-se nos subúrbios de Paris e aqui encontram-se os fundadores dos Think of a New Kind (aka T.A.N.K). No entanto, nesta data, ainda dão pelo nome Dark Signs e contam apenas com Eddy Chaumulot e Symheris, visto que apenas no ano seguinte a formação estabiliza com novos instrumentistas e com Raf Pener (voz). Depois há mexidas na banda e chegamos ao alinhamento atual com a entrada de Clément Rouxel (percussão) e Olivier d'Aries (Baixo).
Antes de mais, convém não confundir os franceses T.A.N.K com os veteranos do heavy-metal inglês, Tank, que voltaram recentemente à ribalta com “War Nation” (2012). Estes gauleses indómitos praticam um Death Melódico de forte poder corrosivo e pragmatismo rítmico-melódico, dando ao novo “Spasms of Upheaval” um enormepotencial de “knock out” pela violência com que dispara “jabs” e “uppercuts” sonoros ao longo de vagas ininterruptas de distorção.
De facto, depois de alcançarem alguma notoriedade internacional com o álbum de estreia, “The Burden Of Will", os T.A.N.K regressam ao ringue musical para mais um assalto violento e letal. A intro “Life epitaph” predispõe a audiência para barragens sucessivas de Death explosivo e demolidor onde impera uma qualidade uniforme,sem momentos de arrebatamento, mas também sem que qualquer dos temas pareça deslocado ou escolhido apenas “para encher”. Em seguida, “The Raven’s Cry"  vai ao tutano da identidade musical da banda para mostrar que estes franceses carregam energia até à medula e não se coíbem de a partilhar através de guturais céleres,agrestes e abrasivos, bem alicerçados em ritmo, distorção e tenacidade na percussão.Continua a escalada de violência e “Unleash the Craving” merece uma referência especial pela forma como a banda faz uma gestão cuidada de peso e melodia, mas sempre com pedal a fundo. A próxima, “Spasms of Upheaval”, traz uma maior componente melódica, quer pelas flutuações entre o growl e o registo limpo, quer pelaforma como surgem solos de guitarra.
As músicas sucedem-se e seguimos no carrossel de ferozes diatribes que os T.A.N.K servem prodigamente, mas com algum excesso de linearidade e uma utilização demasiado recorrente dos mesmos motivos. Exceção é a vocação Metalcore do single “Inhaled”, com a participação da voz potente de Jon Howard (Threat Signal).Saliente-se ainda, depois do fugaz interlúdio “Slumber”, o apogeu poderoso e selvático de “Conflict”, sendo que este rasgo intempestivo de furor cru e direto merecia uma conclusão diferente. Há ainda momentos que combinam tonalidades progressivas (particularmente em termos de solos) e ferocidade Death, ouça-se “A Life Astray”. “Daze” encerra o álbum numa toada mais experimental, visto que este final será essencialmente melódico e quase melancólico.
Ao segundo álbum os T.A.N.K confirmam o potencial que fervilhava em “The Burden Of Will". Raf Pener é dono e senhor de uma voz retumbante e não tem qualquer pejo em puxar pelas cordas vocais. Resta aguardar pelo próximo assalto para verificarmos qual a direção do combate: maior aproximação ao Metalcore ou um cerrar de dentes na senda do Death.