segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Gojira - L' Enfant Sauvage

GOJIRA
L'Enfant Sauvage
26 dejunho de 2012, via Roadrunner

Publicado em Rock n'Heavy





Os iconoclastas e inconfundíveis franceses Gojira divulgaram recentemente – “l’Enfant Sauvage” – o sucessor de “The Way Of All Flesh” (2008). Depois de terem ascendido a pulso na cena underground do death metal gaulês e alcançado o zénite com “From Mars to Sirius”, cada novo trabalho dos Gojira cria as mais altas expectativas nas hordas de fãs que ainda chocalham invariavelmente as meninges encefálicas ao som de “Ocean Planet" e "The Heaviest Matter Of The Universe." Neste “status quo”, o regresso da banda ao estúdio para gravar um novo álbum terá sido certamente um processo complexo (como se percebe pelo longo interregno), visto que há sempre que optar entre a inovação ou a reiteração de uma fórmula de sucesso.
Em “l’Enfant Sauvage”, os Gojira optam por seguir o caminho mais seguro e voltam à carga com a sonoridade que os notabilizou. Em termos líricos, sente-se que Joe Duplantier procurou expandir o leque de temas utilizados, investindo numa abordagem mais intimista, pessoal e existencial de forma a produzir uma reflexão sobre a condição humana em geral, e acerca da sua própria situação enquanto ser social. No entanto, a mesma força telúrica que inspirava os trabalhos anteriores permanece inabalável, logo na música dos Gojira perdura o influxo atlântico da Gasconha e ainda se escutam os ecos das escarpas rochosas do país basco (recorde-se que Mario Duplantier é um adepto do surf e que Jean-Michel pratica “mountain biking”)
.Um dos destaques do álbum irrompe à segunda faixa com o tema título “L’Enfant Sauvage”, de facto, em linha com a vocação telúrica dos Gojira aponta-se, liricamente, para aqueles que são os fios condutores do álbum: a liberdade e a verdadeira natureza da condição humana centrada na dialética entre o instinto primevo – o nosso lado animal – e a razão – a dimensão civilizacional. Musicalmente, exibem-se os argumentos característicos da banda com uma forte presença da secção rítmica, nomeadamente, ao nível da percussão, que é, de forma recorrente, um dos motivos mais sublimes na sonoridade da banda. Em “The Axe” o pedal duplo de Mario Duplantier instaura o caos nos momentos mais dinâmicos do tema. A revoada elétrica das guitarras, o baixo insinuante e as vocalizações ríspidas e lancinantes conferem-lhe também grande intensidade. Quando chegamos a “Liquid Fire”, Joe Duplantier já tem a garganta bem quente e o fluir das palavras é corrosivo, abrasando os nossos tímpanos com esse “fogo líquido”.
Em “The Wild Healer” há uma inflexão em termos de sonoridade, criando-se um hiato instrumental que marcará a transição para aquela que é, porventura, a parte mais apelativa do álbum. “Planned Obsolescence” é um tema metamórfico e heterogéneo com flutuações rítmicas e diversas amplitudes sonoras. A próxima, “Mouth Of Kala”, é uma malha heavy que combina a dose perfeita de peso e melodia, aliando uma forte componente onírica e nefelibata à densidade atmosférica e emocional. O último destaque vai para “Pain is a Master” pela sua diversidade melódica, ora extravasando energia através de riffs agrestes e uma bateria semelhante a uma arma antiaérea em rápida cadência de disparos tracejantes, ora desacelerando para cadências sincopadas onde abunda a exploração dos metais da percussão e as vocalizações artificialmente sublimadas.
Indubitavelmente, “L’Enfant Sauvage” é um bom álbum de Gojira, no entanto, essa identidade é também o seu calcanhar de Aquiles, porque se esquecermos a cativante prestação do vocalista e as variações rítmicas constantemente introduzidas pelo bateria e pelo baixo, que oscilam entre a pulsação groove e a descarga trovejante do death, este álbum não seria tão eletrizante, na medida em que, carregaria o inolvidável estigma do déjà vu.


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