segunda-feira, 2 de setembro de 2013

The Smashing Pumpkins - Oceania

THE SMASHING PUMPKINS
Oceania
19 de junho de 2012, via EMI
Publicado em Rock n'Heavy









Integrado no megalómano projeto conceptual – “Teargarden by Kaleidyscope” – iniciado em 2009, “Oceania” é, como referiu Corgan, “um álbum dentro de um álbum”, referindo-se ao facto de este último trabalho constituir uma forma de revitalizar o seu próprio processo criativo, uma vez que já estaria exaurido o formato de divulgação individual de canções via internet.

Surpreendentemente, logo na primeira audição, “Oceania” (esquecendo a lengalenga conceptual) soa como algo produzido por uma verdadeira banda e não como um mero sucedâneo egocêntrico produzido por um pequeno génio musical no seu estúdio particular. Depois da surpresa inicial, e quando os nossos recetores melódicos estão já sintonizados, há uma nostalgia revivalista que começa a fervilhar libidinosamente. Subitamente, aquele pulsar nebuloso do baixo que escutamos em “Quasar” começa a soar muito àqueles Pumpkins a que dissemos (supostamente) adeus naquele concerto memorável, em 2000, no Estádio do Restelo.
Na verdade, Corgan é, em qualquer tempo e lugar, um soberbo compositor e o manancial melódico que nos oferece logo nas primeiras faixas do álbum é prodigioso. Em “Quasar” a linguagem evanescente das guitarras é o complemento ideal para as vocalizações características de Corgan. O devaneio hipnótico de “Panopticon” é inquietante. “The Celestials” explora a abordagem delicodoce e acústica. “Violet Rays” é uma balada atmosférica e apaixonante, que lembra os momentos mais sedutores de “Mellon Collie” e que estabelece nexos com, por exemplo, “Tonight, Tonight”. “My Love is Winter” é uma pérola de lirismo amoroso. A eletrónica e dançável “One Diamond, One Heart” nunca chega verdadeiramente a descolar e será porventura um dos momentos menos cativantes de “Oceania”, até porque a batida catatónica e os versos redundantes tornam o tema demasiado linear e algo enfadonho. “Pinwheels” é uma canção que tem despertado sensações diversas mesmo entre os elementos da banda e que precisaria talvez de uma abordagem diferente. “Oceania”, com os seus teclados etéreos, lembra paisagens marinhas ou celestiais. Deve enfatizar-se também a predominância da secção rítmica que constrói o húmus sonoro sobre o qual se cruzam as diferentes cambiantes melódicas. A surreal “Pale Horse” parece construída em torno de um riff de guitarra singular e essa redundância rítmica consegue criar efeitos verdadeiramente hipnóticos. A propósito do tema seguinte, “The Chimera”, Corgan esclareceu que a canção nasceu de um improviso de guitarra entre gravações, com efeito, sente-se aqui a preponderância da guitarra, mas em comparação com o anterior, este é bem mais rápido e enérgico, sendo que os devaneios da guitarra são aqui verdadeiramente preponderantes. “Glissandra” tem um travo a shoegaze e invoca ambiências dos anos oitenta e noventa, sendo que em termos instrumentais apresenta particularidades verdadeiramente cativantes ao nível dos efeitos que são introduzidos na guitarra de Corgan. “Inkless” vai deslumbrar todos os fãs do “Siamese Dream”, visto que nenhum outro momento do álbum soa tanto ao material mais antigo dos Pumpkins. Corgan afirma que o solo de guitarra neste tema lembra os Queen, sendo algo verdadeiramente insólito na música atual, visto que abdica completamente da guitarra ritmo de forma a salientar a pureza cristalina do som da guitarra solo.
A saturniana “Wildflower” encerra o álbum numa toada melancólica que é reiterada pela circularidade sonora evidenciada ao longo de todo o tema. Melodicamente, as variações são muito subtis e há uma linha sequencial que escutamos de forma recorrente até que o álbum encerra imbuído nesta aura de hino elegíaco.
Com efeito, reencontramos, em “Oceania”, alguns dos aspetos que fizeram da sonoridade dos Pumpkins uma referência incontornável na música da década de noventa. Assim sendo, há aqui uma musicalidade que nos embala em ondas de nostalgia, e a essa experiência revivalista alia-se, ocasionalmente, algum experimentalismo, ainda que, a utilização dos teclados seja, porventura, excessiva.

“Oceania” é, de facto, uma oportunidade para nos deixarmos enlevar pela antiga mística dos Pumpkins, no entanto, resta esperar que este não seja um fugaz fogo de Santelmo num imenso oceano de águas paradas.  



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